quinta-feira, 17 de março de 2011

O que nos impede de sentir um pouco outros sentimentos além da felicidade?

 Tenho pensado que somos pressionados de uma certa forma a estarmos  sempre e felizes e satisfeitos com tudo. Lateja em nossas mentes o ideal de alguém bem sucedido que está o tempo todo sorrindo, daqueles que à sua volta sorriem junto com ele e continuamente tem tudo correndo na mais perfeita ordem: suas finanças, família, amigos, vida amorosa. Posso pensar também nas inúmeras palestras motivacionais, livros de auto-ajuda entre tantos que enfatizam a felicidade, como se ser feliz fosse a única coisa a ser sentida.
 Ser feliz pode ter se transformado até mesmo em uma obrigação nos dias atuais. Você possui um emprego no qual trabalha 10 ou mais horas por dia, condições péssimas de se trabalhar, mas mesmo assim tem de arrumar um sorriso no rosto como se nada estivesse acontecendo. Ocorrem palestras, seminários de motivação e mesmo assim sem chegar a nenhum resultado concreto, a nenhuma mudança ambiental que proporcione melhor padrão de vida profissional e psicológico de um funcionário. Quando há falações sem atitudes de mudança, se torna um show de masturbação mental.
 As emoções se tornam motivadores para agirmos, é a característica mais primitiva da nossa existência humana. A própria linguagem, quando não é carregada com emoção, pode fazer dormir o mais atento dos ouvintes. Há pesquisadores que afirmam que a emoção é um sistema bem mais intenso se comparado com o sistema lógico ou cognitivo que possuímos.
 E de alguma forma, essa motivação para agir pode se tornar reprimida por um sistema social que prega a constante ênfase em um sistema emocional. Dessa repressão, acredito que haja um estouro de depressão e outras coisas que tornam o indivíduo refém, que era antes da obrigação de ser feliz e satisfeito, agora dos seus próprios sentimentos idealizados e perdidos na frustração de não ter e ser aquilo que ele compra com a sua aceitação.
  Fabricam-se dependentes de felicidade: de medicamentos, álcool, jogos, comida, drogas, internet... o que temos são compulsivos de tantas coisas na esperança de aliviar, preencher e descarregar o drama emocional em que vivem dia após dia. Me recordo do livro que terminei de ler: Admirável Mundo Novo, um livro que fala sobre um mundo regido pela lei da felicidade imposta por remédios que deixam a população em um estado contínuo de satisfação.
  Presos em um ciclo de vida miserável sem perspectiva, sem poder direcionar suas emoções em direção aquilo que desejam, dependentes de projetos inacabados, reclamadores e murmuradores dos outros, quando suas questões repousam em si mesmos, seguidores irracionais de ídolos que são da sua mesma espécie, mantenedores do próprio sistema que os aprisiona e os mantém passivos e reféns.

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