sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Relatos psicológicos e(ou) religiosos de um menino de 7 anos (parte 2)

 Estar sendo dominado por algo além da percepção é um assunto que muitos desacreditam. Eu, prefiro me colocar em uma postura de incerteza quanto a existência de uma realidade superior ou além do que percebo. Incerteza claro, no sentido de reconhecer minhas limitações quanto ser humano em relação a um mundo que me circunda. Se o problema com esse garoto era espiritual, prefiro me colocar na incerteza, mas posso dizer que há alguma produção psicológica desse "outro" ou, como ele nomeou, Diabo.
 Pois bem, encontro essa criança com a cara inchada, os olhos vermelhos e sento com ele perguntando o que aconteceu, ele me afirma que não pode falar o nome desse personagem porque senão iria acontecer tudo de novo. Realmente, acredito que isso tem que ser respeitado, é uma situação delicada e ainda estudo Psicologia, estava lá apenas para ouvi-lo e compreender o que se passava em seu modelo de mundo.
 Ele vai até o quarto e começa a ter uma espécie de "flashback" me contando a voz e a visão do que viu na noite anterior. Uma voz falando que iria pega-lo e uma figura que mais tarde ele iria desenhar. É um menino que gosta de desenhar, e pelos desenhos pude observar uma coisa interessante: o desenho de uma televisão. Por que uma televisão? Deve haver algum significado e ele me fala de um seriado que carrega um peso emocional, uma vez que foi assistir a um filme de terror com a tia...
 Curiosamente, anteriormente ele tinha me falado que sentia dores no coração. Ele desenha uma representação da morte com um coração na mão... Dá pra entender essa produção psicológica associada ao filme de terror, ao conteúdo emocional do que ele vivencia na televisão. De certo, um autor chamado Daniel Goleman afirmou que quando vemos um programa de televisão, na realidade estamos associados com aquilo que está passando, nos colocamos no programa.
 Após desenhar um pouco e conversarmos mais, sinto que ele já tinha me falado tudo o que se lembrava e que tinha se esquecido de mais coisas (uma defesa psíquica?). De fato, o semblante dele estava bem melhor e ele afirmava que se sentia melhor. Realmente é uma situação que é necessário se olhar as várias relações presentes em um caso como esse: as relações com sua família, até que ponto há toda esse conteúdo de veracidade no que foi relatado, o que pode ter sido imaginado e por ai vai. De qualquer forma, pessoalmente, acho fascinante a produção dessas pessoas, como se fosse uma investigação do tipo Sherlock Holmes, de onde se tem que juntar várias peças para poder compreender o que se passa com uma pessoa, aquilo que pode ser visto mas ninguém vê, ou não quer ver.

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